Em terra de hipócritas, quem diz o que é ético?

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Tenho defendido que os tempos horrorosos que vivemos decorrem de um enorme desarranjo na nossa comunicação e linguagem. Também temos visto que se trata de uma atualização para aqueles que ainda dizem que o “o mundo atual é muito chato”. Esses modelos mentais não se adequam em um ciclo solar.

Estão todos demandando um lugar ao sol e tem gente que quer fixar seu enorme gazebo na areia pegando a luz só para si, zero empatia! É preciso calma para reordenar o espaço na areia e não é com aplicativo de reserva de quadrado.

É muito importante sensibilizar para o que efetivamente é um ato antiético num mundo em que o próprio modo de vida é decorrente de várias decisões eticamente questionáveis.

Eu observo que, ao longo dos tempos, foi inserida na sociedade a ansiedade punitivista e estamos influenciados a considerar errado somente o que é crime, quando são exatamente aqueles cometidos dentro da lei os piores. Ouvi uma entrevista do Noam Chomsky em que o historiador argumenta com fatos que absolutamente nenhum presidente americano seria inocentado no Tribunal de Nuremberg que impuseram aos alemães após a 2ª Guerra.

Não há vilões, nem heróis, somos todos dúbios e contraditórios por natureza e isso torna a vida interessante e eterno ambiente de lutas. Isso deve ser usado como uma forma de iniciar e estabelecer diálogo para construção de ambientes éticos. É um conceito dinâmico e resultado das relações de poder. Vi essa semana um vídeo do Bezerra da Silva cantando Semente no programa de auditório com crianças ao fundo sacudindo pompons e bexigas para alto. Onde estavam os “caretas” de hoje naqueles dias?

Vejo apreensões midiáticas de drogas ali e aqui e não me sinto mais seguro, tampouco acredito que os consumidores tenham desistido do consumo recreativo. Quem está sendo afetado por tais decisões?

Vejo um grande jornal se referir ao Complexo da Maré, moradia de 140 mil pessoas como “bunker de bandidos”, enquanto o filho do desembargador é o “estudante que vendia ácido em festas” e não encontro um anunciante, inclusive os que tem campanhas publicitárias antirracistas, cobrar posicionamento. Criminalizam o morador de favela e investem muito dinheiro em empresas que exploram os efeitos farmacêuticos da maconha.

Uma empresária negra é impedida de sacar seu próprio dinheiro no banco. Um homem branco sai de cargo estratégico do Ministério da Fazenda para ser executivo sem nenhum questionamento, nenhum! A catraca não gira igual para todos. O dono do banco ainda publica como propaganda o feito, oras, quem não teria a honra de ter um ex tesoureiro público dando dicas de investimento? Lindo seria o país que a presunção de idoneidade fosse igual para todos.

Quem define o que é ético? Quem define o que é procedimento padrão? Quem define o que é conflito de interesse?

A vida é feita de muitas nuances. Atenção sempre às narrativas proselitistas — ou seria pros elitistas? -, as que querem te convencer sem olhar o contexto todo, usando do medo e da violência para tirar a atenção do que interessa e apresentam soluções mirabolantes.

Lembrem-se da lição “o cérebro está sempre pronto pra te enganar”.

Referências citadas:

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GUILHERME AUGUSTO ABDALLA ROSINHA

Sambista de churrasco e saxofonista de rua Compliance e Integridade Tributário